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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Carta


(Prometi escrever uma carta, em moldes antigos... E escrevi... imaginando o que Vlad Dracul, poderia dizer hoje à sua amada... )








Perdido algures no nada, 7 de Abril de 2010

Amor,
Amor, escrevo-te as palavras que ressoam no meu cérebro nestes tempos imemoriais de solidão.
Não sabes o que sou ou no que me tornei.
A Besta sou eu! Por isso não me atrevo a procurar-te… Mas o amor não partiu, não sucumbiu à fúria do Mal em que me tornei, mas não posso aproximar-me de ti, amor.
Recordo a noite que os hediondos Hunos nos atacaram e com fétidas artes me induziram no erro…
Reneguei ao amor que nos guiava na crença. Reneguei o Amor pelos homens, renunciei aos meus… Rasguei as escrituras e odiei tudo e todos, menos a ti, meu amor…
Mas não me posso aproximar… sem te tornar naquilo que sou hoje, neste ser vazio, sem rumo, perdido de calor e fétido.
Amor, sei que sofreste. Que te sentiste traída e só, mas amor fomos enganados… ludibriados pela corja de selvagens que nos atacaram pela calada da noite, com instintos sujos de ódio.
Amor, parti para a batalha e venci, mas no fim perdi tudo! Quando te perdi…
Tornei-me então nesta sombra que sou hoje, onde tudo sou e nada tenho…

Amor perdoa-me por te deixar só, mas não posso aproximar-me de ti…

Naquela fatídica noite de 25 de Junho de 1461 escrevi-te ainda no campo de batalha… e foi premunição do que seria o nosso futuro.
Entrego-ta agora, com o encantamento que o meu amor impossível, possa atenuar a dor que sentes, por seres traída.

Ainda te amo… mas não posso aproximar-me de ti…



Amor,


Faz muito tempo que não te escrevo.
Já nem sei se te sei escrever.
Mas recordo-te ainda como figura de enlevo,
Quando éramos nós dois, um único ser…

Esta carta nem sei se a cesso,
Sinto um frio escorrer do aparo da caneta…
Frio como eu estou, neste processo,
Sinto-me perdido no espaço, feito cometa…

Faz séculos que não trilho a escrita a ti
Aqui neste caixão, tolho o meu pensamento
De quando cavalgávamos o verbo do momento
Mas a incauta lança me perdeu e parti…

Faz muito, muito tempo que não te recolho
Em meus braços trémulos, ao teu toque
Faz muito, muito tempo que não te envolvo
Nos meus lábios quentes ao teu chofre…

Perdoa-me esta carta assassina, crua…
Mas ela nasce de uma só saudade
A de fazer séculos que não te vejo minha e nua,
Neste esconso lugar que foi nosso, na mocidade…

Já faz tempo que não te escrevo cartas de amor
E agora, após este longínquo tempo que me enrugou
Já não o sei fazer como o fazia, com o calor…
Com o fervor, com a chama, que o tempo maldito levou…

Hoje escrevo-te porque não quero que me vejas
Encanecido, rugas disformes no homem que fui
Era a luz dos teus olhos, não o que almejas
Agora, aqui, prostrado neste caixão que flui…

Não voltarei a sentir-te em mim, neste corpo
Teu onde navegaste perdendo-te da razão
Agora feneço fétido, hediondo… decomposto
Sucumbo neste esquife - alçapão…

Faz muito tempo que não te escrevo.
Séculos dispersos neste rodopiar de tempo perdido
Temo que seja já tarde para te dar o que te devo
Pérola – esmeralda, meu amor não cumprido.


Perdoa-me…



Vlad Dracul

Transilvânia, 25 de Junho de 1461

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